sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

FHC pelo THC!


- Fernando Henrique Cardoso defendeu a descriminalização da maconha no encontro da Comissão Latino Americana sobre drogas e democracia. Argumenta que a repressão da polícia judiciária não têm apresentado resultados contra o crime organizado e nem diminuído o consumo. Ao contrário há um aumento de usuários, sobretudo de maconha. Defende a descriminalização do usuário e que passemos a cuidar do problema como um assunto de saúde pública e educação. A declaração foi um grande passo para discussão de nova políticas públicas para o combate do uso de drogas. A partir daí, políticos, ministros, autoridades, juristas debatem a questão.
- Historicamente a proibição do uso de entorpecentes é ineficaz, basta lembrar a lei seca americana, que proibiu a bebida durante a Grande Depressão de 1929. Não só os americanos não pararam de beber, como o contrabando de bebidas produziu um dos mais famosos gangsteres da história. Alphonsus Gabriel Capone (Brooklyn, Nova Iorque, 17 de janeiro de 1899Palm Beach, 25 de janeiro de 1947), mais conhecido como Al Capone.
- Tudo é muito evidente, quanto maior a repressão cada vez ocorrerão mais apreensões, havendo menos mercadoria disponível no mercado o preço vai às alturas. O aumento do preço estimula mais pessoas a traficar, que apesar dos riscos há um lucro maior. Com mais dinheiro o traficante pode comprar armas, subornar policiais e autoridades. Isso chama economia de mercado, ou seja, capitalismo mais precisamente. Está para nascer sistema econômico mais resistente que esse, pois ele renasce de suas crises.
- A guerra contra o tráfico não é uma guerra para ser vencida, é um ciclo que se renova a cada dia. Se o uso de drogas fosse legalizado, certamente será o golpe financeiro mais intenso e eficaz contra o crime organizado. Duvido que alguém arriscaria comprar droga de bandido, se a pessoa pudesse ter seu seu cultivo de maconha em casa, ou se pudesse comprar drogas num ponto de venda autorizado. Esse discurso que o usuário alimenta o crime organizado é falso. Quem alimenta o crime organizado é o estado com sua política de proibição e repressão.

- Infelizmente, setores conservadores da sociedade que não aceitam sequer discutir uma mudança na política anti-drogas. Sustentam que se discriminalizado ou legalizado o consumo aumentaria a níveis alarmantes, sobretudo entre os jovens. Outros, acredito eu, lucram bastante com a proibição, como policiais corruptos que recebem o suborno, parlamentares lobistas do crime organizado, magistrados. Basta lembrar os fatos citados no passado na pretérita CPI do narco-tráfico. Ora, as drogas e as armas do Comando Vermelho não são produzidos na favela, é óbvio que chegam lá com a conivência de setores do poder público.

- A solução do problema não é simples, deve haver um investimento maciço em informação e educação. As pessoas têm o direito de saber tudo sobre as drogas, as substâncias das quais são compostas, quais são as sensações do uso e os problemas de saúde que causam. Quanto ao argumento de aumento de usuários, caso haja um abrandamento na política de enfrentamento ou possível legalização, tenho que discordar. O cigarro é uma droga legalizada, certo? O consumo de cigarro teve um alto índice de redução nas últimas décadas. Por quê? Simples, os governos resolveram investir na educação e informação sobre os malefícios e doenças provocadas pelo cigarro. O gasto em repressão quem paga é o contribuinte, e essa repressão não têm obtido resultados. O preço que a sociedade paga é muito caro. Esse dinheiro poderia ser investido em escolas, hospitais e estradas. Outro mito é da dicotomia entre traficante e viciado. O traficante é sempre visto como um bandido com uma metralhadora na mão e o usuário um jovem ingênuo. Isso nem sempre é verdade, muitos adolescentes e jovens de classe média tornam-se traficantes para manterem o vício. Se o estado anda preocupado com o futuro da juventude, por quê, então, jogá-la na cadeia ? Como sabemos, não existe lugar mais seguro para consumir droga que uma cadeia brasileira. Além do mais o sistema carcerário brasileiro mais destrói do que recupera as pessoas.

- Desde os primórdios a humanidade tem contato com alucinógenos, psicotrópicos e estimulantes. Nas civilizações antigas as drogas serviam como instrumentos que possibilitavam encontrar suas divindades e lhes proporcionava autoconhecimento. O objetivo era a busca da evolução espiritual. Nesta jornada existia a figura do Xamã, líder espiritual que guiava as pessoas na jornada para o eu interior, era ele quem estabelecia os limites e orientava o uso dessas substâncias. O ser humano têm necessidade de fugir da realidade por meio de drogas , à vezes, essa fuga é normal e necessária, essa tradição nos acompanha por milênios. Acontece que o sentido espiritual desta jornada se perdeu nas sociedades ocidentais. A fuga constante ao contrário da esporádica é prejudicial, proporciona uma falsa sensação de felicidade e uma certa apatia em relação a vida, sem contar os incontáveis problemas de sáude.

- O ser humano nunca vai parar de se drogar, a proibição impede uma velha tradição antropologicamente falando, o surgimento de "xamãs", ou de pessoas que orientem e advirtam sobre o uso de certas substâncias. É preciso acabar com a hipocrisia de que é possível acabar com o uso das drogas entre nós. Basta visitar um bar, uma farmácia ou até mesmo um supermercado, que você verá quantos alucinógenos, psicotrópicos e estimulantes estão disponíveis legalmente no mercado. O possível é criar uma política de prevenção e educação, aí sim podemos reduzir o número de viciados, conscientizar as pessoas das vantagens de não se usar drogas e para aqueles que preferem fazer uso dessas substâncias, dar instrumentos para ajudá-los a entender os seus limites, os danos a sua saúde e fazê-los diminuírem ou até mesmo parar. Isso sem apontar uma arma na sua cabeça e colocar um par de algema em seus punhos.